domingo, 31 de janeiro de 2021


                                                                                              Tudo o que me dói são poemas inacabados


voltar a casa

ser raiz e haste à hora do dilúvio

gemer o vento quando a morte me ombreia os passos

e desvirtua as mãos

consentidas de noite e de flagelo.

 

já não viajo

(viajar é sonhar em frente)

resta apenas o vago desejo de itinerários

onde o mundo adormece de silêncio

e me esqueço do choro

da dor lilás dos que escurecem sem esperança.

 

 


e   ainda assim   ser

soleira

pedra

espuma

flor sobrevivente da geada ao meio-dia

 

 

voltar a casa

dobrar o olhar sobre uma carta de amor

um túmulo de aves

 

 

foto: Mikahil Batrak